Madeira engenheirada: o futuro da construção
A madeira foi, por muito tempo, o principal material da construção, escolhida por ser abundante e acessível. Com o avanço da engenharia, porém, suas limitações estruturais abriram espaço para o concreto e o aço, mais resistentes, duráveis e capazes de sustentar grandes obras. Assim, a madeira acabou restrita a funções temporárias ou acabamentos.
Na Europa, esse ciclo foi diferente: pesquisas e tecnologia transformaram a madeira em um material de alto desempenho, dando origem à madeira engenheirada. Atualmente, em um cenário em que o cimento responde por cerca de 8% das emissões globais de CO₂, a volta da madeira (agora repensada e tecnologicamente aprimorada) mostra-se como uma alternativa não apenas viável, mas estratégica para reduzir o impacto ambiental da construção civil.
O que é madeira engenheirada?
Aqui não estamos falando de tábuas brutas cortadas diretamente da floresta. A madeira engenheirada passa por um processo industrial de seleção, tratamento e composição para potencializar suas propriedades estruturais e torná-la mais resistente, estável e versátil. Nós, trincas e rachaduras são todos eliminados antes da transformação. As fibras são alinhadas e a madeira é convertida em lâminas, tábuas ou até micropartículas, que depois são unidas por colagem ou encaixe para formar peças estruturais precisas.
Dependendo da aplicação, essa madeira pode se transformar em:
- MLC (Madeira Laminada Colada / Glulam): lâminas coladas com fibras paralelas, ideais para vigas e pilares.
- CLT (Madeira Laminada Cruzada / Cross Laminated Timber): tábuas coladas em camadas perpendiculares, formando painéis robustos para paredes e lajes.
- LVL (Madeira Microlaminada): lâminas finas coladas, usadas em componentes estruturais de alta resistência.
O resultado são peças leves, resistentes e com encaixe perfeito, fabricadas fora do canteiro e montadas no local com velocidade impressionante, reduzindo os prazos de uma obra em até 50% quando comparado ao método de construção tradicional.
Aplicações e projetos de referência
A versatilidade da madeira engenheirada já permite que seja aplicada em pilares, vigas, painéis, infraestrutura urbana e até em edifícios de múltiplos andares, alguns com mais de dez pavimentos. Exemplos ao redor do mundo mostram como essa tecnologia vem transformando a construção civil em diferentes escalas.
No Brasil, um marco recente foi a construção da loja conceito da Dengo Chocolates, na Avenida Faria Lima, em São Paulo. Projetado pelo escritório Matheus Farah e Manoel Maia, foi o primeiro edifício multipisos de madeira engenheirada do Brasil, e é o mais alto do país feito inteiramente nesse material. Suas lajes em CLT, produzidas pela Amata, e seus pilares e vigas em MLC, fornecidos pela Rewood, demonstram a maturidade dessa indústria no cenário nacional. A volumetria marcada por cubos vazados, a madeira aparente e a integração com a vegetação não apenas reforçam a estética acolhedora da marca, mas também provam que é possível aliar inovação tecnológica, sustentabilidade e qualidade arquitetônica em uma das avenidas mais icônicas de São Paulo.
Em Londres, outro exemplo de destaque é o Black & White Building, prédio comercial assinado pelo escritório Waugh Thistleton Architects. Com seis pavimentos e 4.480 m², sendo o mais alto de Londres nesta categoria, o edifício foi construído a partir de componentes pré-fabricados de madeira engenheirada, como CLT para pisos e núcleo, LVL para pilares e vigas, além de Glulam em sua fachada. A obra é descrita por seus autores como “visivelmente sustentável”, não apenas por reduzir drasticamente a pegada de carbono em sua construção, mas também por ser inteiramente desmontável: ao fim de sua vida útil, pode ser desmontada e seus materiais reutilizados, em vez de demolida e descartada.
Esses dois projetos mostram como a madeira engenheirada pode se adaptar a diferentes contextos urbanos e culturais, mantendo sempre em comum a busca por sustentabilidade, inovação e eficiência.
Por que a madeira engenheirada é sustentável?
O setor da construção responde por cerca de 38% das emissões globais de CO₂. Metade disso vem do chamado carbono incorporado, gerado na fabricação e transporte dos materiais, e por isso a busca por materiais mais sustentáveis se torna tão urgente.
A madeira engenheirada tem uma vantagem crucial nesse quesito: ela armazena carbono em vez de emitir. Enquanto a produção de cimento e aço libera grandes quantidades de CO₂, as árvores retiram esse gás da atmosfera durante seu crescimento e o mantêm retido em sua estrutura ao longo de toda a vida útil da construção. Com florestas plantadas e manejo responsável, cada edifício construído com esse material começa seu ciclo de vida como carbono negativo — ou seja, já armazenando carbono antes mesmo do início da obra.
Esse ciclo fica ainda mais sustentável com a silvicultura: o plantio planejado e manejado de florestas para fins comerciais. No Brasil, espécies como o pinus crescem rapidamente, têm alto desempenho estrutural e são cultivadas com regulamentação e certificações que garantem a conservação de áreas nativas.
Ao plantar para construir, evitamos a exploração predatória de florestas naturais, reduzimos a extração de recursos não renováveis (como pedra e areia) e até ajudamos a recuperar áreas degradadas, restaurando solos e aumentando a umidade do ar. Além disso, por ser modular e desmontável, a madeira engenheirada permite a reutilização de peças no futuro, prolongando seu ciclo de vida e ampliando o impacto positivo sobre o meio ambiente.
Construir para o futuro
A madeira engenheirada mostra que é possível unir tecnologia, eficiência e sustentabilidade em um mesmo material. Ela não é apenas uma tendência arquitetônica, é uma resposta concreta à urgência climática que enfrentamos.
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