Não é novidade que o centro de São Paulo vem passando por um processo de esvaziamento há décadas. Segundo os dados do Censo de 2022, o centro concentra 20% dos imóveis desocupados da cidade, representando cerca de 58 mil unidades residenciais, acima da média geral de vacância registrada na cidade, sendo a região da República a que lidera o ranking dos bairros com maior percentual de imóveis vazios.
Para mudar esse cenário, a Prefeitura de São Paulo trouxe soluções para revitalizar a região, como melhorias na infraestrutura urbana e incentivos fiscais. O resultado? Um movimento crescente de reforma de prédios antigos, abertura de novos empreendimentos e incentivo à moradia na região.
Prefeitura incentiva revitalização do centro
A primeira ação foi aprovar o Projeto de Intervenção Urbana (PIU) Central, que trouxe regras para o desenvolvimento do centro, como incentivos fiscais e facilidade na aprovação de projetos de reforma de edifícios já existentes ou a construção de novos empreendimentos.
Outra iniciativa da Prefeitura que foi bem vista pelos investidores foi a Lei do Retrofit, que incentiva a recuperação de edifícios antigos, inclusive os tombados, modernizando as construções para atender às demandas da população, e as diretrizes atuais de segurança e acessibilidade.
Projetos de retrofit no Centro

As leis de incentivo já estão trazendo resultados para o Centro de São Paulo. De acordo com a Prefeitura, já foram protocolados 20 projetos na Secretaria de Licenciamento, sendo que três deles já receberam aprovação.
Um desses prédios que vão ser revitalizados é o antigo Edifício 7 de Abril, batizado agora de Basílio 177, que abrigava a sede da Companhia Telefônica Brasileira e da Telesp. Inaugurado em 1939, o projeto original do Escritório Técnico Ramos de Azevedo & Severo Villares tem construção tombada desde 1992, foi desativado em 2010, e desde então estava desocupado.
O retrofit comandado pelo Metro Arquitetos, traz 274 apartamentos com vários tamanhos diferentes distribuídos em três torres, sendo que duas delas estão sendo restauradas. Além disso, o conjunto inclui ainda espaços comerciais, áreas de lazer, coworking, piscina e praça central arborizada. As áreas comuns e os decorados são da Todos Arquitetura. E à frente da incorporação está a Metaforma, especializada na valorização de imóveis históricos.
Outro projeto que está sendo revitalizado é o Edifício Virgínia, inaugurado em 1951 para a família Matarazzo. Com 11 andares, dois blocos residenciais e lojas no térreo, foi por décadas um prédio de alto padrão. Dessa maneira, com o declínio do centro, virou um edifício comercial e acabou abandonado, fechando as portas em 2019. Com a chegada da incorporadora Somauma, em 2020, o edifício ganha um novo capítulo, com apartamentos de 26 m² a 182 m², além de três lojas no térreo dedicadas à gastronomia e ao mercado criativo e um restaurante na cobertura.
Martinelli recebe investimento de milhões

Em destaque no processo de retrofit do centro, está o histórico Edifício Martinelli, que possui uma relevância marcante para a cidade de São Paulo. Localizado no coração da cidade, no triângulo formado pela Rua São Bento, a avenida São João e a Rua Líbero Badaró, ele não apenas integra o cenário urbano da capital, como também oferece uma vista privilegiada de marcos importantes, como o Vale do Anhangabaú e a Catedral da Sé — funcionando até hoje como um mirante simbólico da cidade.
Além de sua localização, o Martinelli carrega um peso histórico por sua grandiosidade arquitetônica: foi o segundo arranha-céu do Brasil e chegou a ser o mais alto da América Latina entre 1934 e 1947. Ao ultrapassar em altura o Edifício “A Noite”, no Rio de Janeiro, representou não só um avanço técnico da engenharia civil da época, como virou um símbolo do crescimento urbano e da ambição vertical de São Paulo. Tendo sido completamente remodelado em 1975 e reformado pela última vez em 1979, o edifício agora recebe um novo investimento.
O projeto de retrofit do Terraço Martinelli trouxe um investimento milionário para o centro de São Paulo. O projeto prevê a reformulação de áreas do térreo, subsolo e dos últimos quatro andares do edifício (25º ao 28º). Concedido ao Grupo Tokyop, a previsão é de um investimento de R$ 50 milhões para transformar os 2.570 m² em um novo polo cultural e turístico da capital. O projeto promete atrair ainda mais pessoas para o centro, tanto para visitar como para trabalhar, já que a estimativa é de 200 pontos de trabalho no edifício.
A proposta inclui pontos como café, restaurante, cinema, loja, museu, espaço para eventos e um observatório, com funcionamento diário. Por se tratar de um prédio histórico, toda a intervenção segue diretrizes dos órgãos de preservação como a Conpresp e Condephaat, respeitando a importância arquitetônica e histórica do edifício.
A revitalização do centro de São Paulo representa mais do que a recuperação física de seus edifícios históricos. Trata-se de um movimento estratégico para resgatar a vitalidade urbana, promover inclusão social e valorizar a memória da cidade. Projetos como os que envolvem o Edifício Martinelli, o Virgínia e o Basílio 177 mostram que é possível unir preservação do patrimônio com inovação e funcionalidade. A cidade que um dia cresceu em direção ao céu agora olha para dentro de si e reencontra, no seu centro, novas possibilidades de recomeço.
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