Beto Cocenza: mente criativa por trás do BOOMSPDESIGN

Quando Beto Cocenza lançou o BOOMSPDESIGN nos anos 2000, o Brasil ainda não era o polo de design que é hoje. O evento nasceu com a proposta de discutir, explorar e repensar o design, reunindo grandes nomes da arquitetura, arte e design para trocar ideias e provocar novas reflexões.

Agora, em sua 18ª edição, que acontece de 10 a 16 de março, o BOOMSPDESIGN segue impulsionando o debate sobre o setor. O evento acontece no mesmo período em que São Paulo respira design com a DW! Design Weekend, e traz uma programação intensa com exposições, palestras e lançamentos que movimentam o cenário criativo.

Para entender mais sobre a trajetória do evento e a evolução do design ao longo desses anos, conversamos com Beto Cocenza. Na entrevista a seguir, ele relembra o início do BOOMSPDESIGN, fala sobre as transformações do setor e compartilha sua visão para o futuro.

[ImmobiHaus]: Como surgiu a BOOMSPDESIGN? Quais foram suas principais influências no início da sua carreira?

[Beto Cocenza]: O BOOMSPDESIGN surgiu quando comecei a organizar eventos para outras empresas, entre 2003 e 2004. Percebi que havia a oportunidade de criar meu próprio evento e foi assim que tudo começou. A proposta sempre foi dialogar sobre arquitetura, design e arte, explorando as conexões entre essas áreas.

No início, minhas principais influências vieram do design dinamarquês, com nomes como Poul Henningsen e Arne Jacobsen, que eram referências. Também sempre admirei o movimento Memphis e o design italiano do pós-guerra, especialmente a marca Cappellini. Hoje, meu olhar e conhecimento se ampliaram muito, mas essas referências continuam presentes.

[ImmobiHaus]: O que mudou na concepção do BOOMSPDESIGN desde a sua primeira edição? Quais foram as principais transformações ao longo desses 18 anos?

O BOOMSPDESIGN nasceu com muitas palestras — eram três dias de imersão, com cerca de 25 a 30 palestras e uma exposição bem pequena. Com o passar dos anos, as mídias foram mudando, né? Hoje temos internet, Instagram, YouTube, vários canais de conteúdo. Isso acabou desmotivando as pessoas a participarem fisicamente de eventos longos, ficando dois ou três dias paradas só ouvindo palestras.

Fomos percebendo essa mudança e ajustamos o formato, fazendo o evento crescer com mais exposições paralelas às palestras. Em 2017, quando fomos para o Lounge Bienal, fizemos uma mudança radical. Lá, havia um auditório para 300 pessoas, e conseguimos reunir quatro ou cinco designers 2×2, além de cerca de dez marcas montando instalações interativas para provocar o visitante.

Desde então, seguimos ampliando essa abordagem. Hoje temos quase 20 designers, 20 marcas e os talks — três por dia — realizados no espaço da Telhanorte Talks. Outra grande mudança foi concentrar os principais conteúdos nesse formato mais dinâmico.

No dia 10 de março, às 10h, acontece a abertura oficial do evento, com a presença do CEO da Pininfarina, o designer do ano, o cônsul e diversas personalidades do setor, incluindo representantes da Itália. Pelo segundo ano consecutivo, o Italian Design Day será comemorado dentro do BOOMSPDESIGN, reforçando essa conexão internacional que já tivemos na edição passada.

[ImmobiHaus]: Como você̂ percebe a evolução do design ao longo desses anos?

A grande mudança no comportamento das mentes criativas e das indústrias foi a ampliação do uso de materiais. Antes, trabalhávamos com um número mais limitado, como o couro. Hoje, temos couro vegetal, couro aglomerado e uma variedade de novas possibilidades. Essa provocação dos designers e da indústria mudou bastante.

Atualmente, os designers exploram materiais mais inusitados, que antes nem existiam no mercado. Mas não foi só o processo criativo que evoluiu — as fábricas também passaram a inventar novas possibilidades. Hoje, vemos cadeiras feitas de papel, camas de plástico e uma infinidade de aplicações. Essa experimentação de materiais gerou novos conteúdos e expandiu os limites do design.

[ImmobiHaus]: Quais foram os maiores desafios durante esses 18 anos de evento?

Nosso maior desafio sempre foi sensibilizar apoiadores e patrocinadores para que enxerguem o BOOMSPDESIGN como uma plataforma de relacionamento e interação com o mercado. O evento gera conteúdo, agrega valor às marcas e cria conexões estratégicas, mas esse é um trabalho contínuo.

Todo ano, precisamos reforçar esse posicionamento junto aos nossos principais parceiros. Alguns estão conosco há mais de 10 anos, mas sempre há uma dinâmica de renovação — alguns entram, outros saem — e essa movimentação faz parte do evento.

[ImmobiHaus]: Como o público mudou ao longo do tempo? Você̂ percebe um engajamento diferente nas edições mais recentes?

Eu acho que com essa mudança que nós tivemos de ter mais exposições, espaço para relacionamento e interação e geração de conteúdo, eu acho que o público está se divertindo mais, está curtindo mais. As marcas montam as suas instalações para receber esse público, e eles, uma coisa assim, mais divertida – mais fã é a palavra, entende? O que a gente percebeu é que, de 2023 para cá, quando nós viemos para o centro da cidade, [veio] um grande número de criadores, pessoas da indústria criativa, como os arquitetos, designers, designers gráficos, produtores de cinema, de moda, arquitetos… enfim, porque hoje tem uma grande concentração desses escritórios e pessoas morando no centro da cidade, então isso também trouxe um novo público para o BOOMSPDESIGN.

[ImmobiHaus]: O que você espera para o BOOMSPDESIGN para os próximos anos?

Eu pretendo ficar no centro da cidade, nós montamos uma associação que se chama Centro Criativo de São Paulo. Eu acho que tem muitos espaços bacanas ainda para serem explorados na cidade e cada vez mais trabalhar instalações maiores, mais bem elaboradas, e eu acho que a gente tem conseguido fazer isso junto aos nossos clientes e vamos continuar. Temos ainda alguns anos de estar trabalhando com conteúdo gerados a partir da Itália, porque tem uma safra muito boa de designers italianos aí entre 30 e 60 anos, que muitos brasileiros ainda não tiveram nem contato. Então a gente vai explorar bastante isso: a relação entre Itália e Brasil.